VOCÊ ESTÁ LEMBRADA, MENINA?

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Você está lembrada, menina? Daquelas noites em que, simplesmente, deitava-se no  travesseiro e abraçava aquele cachorrinho encardido que o seu pai lhe deu? Lembra-se, também, das massagens nos seus pés, que ele insistia em fazer? Entretanto, ambos sabiam que, na verdade, eram cosquinhas disfarçadas, que era pretexto para darem boas gargalhadas. Sei que sente saudades do mingau de fubá e das cantigas de roda. Da sabedoria e do carinho quando ele precisava te ensinar e da frase que o acompanhava nesses momentos: “já te mostrei o caminho, se não passar por ele, a responsabilidade é sua”. Isso tilintava lá no fundo da alma… Acho que, se estivesse ainda contigo, diria que não o decepcionou, porém, completaria com : “apesar de todas  as burradas que você tem feito… ” É claro!
Soltar e construir as próprias pipas, desenhar nas primeiras páginas dos seus cadernos, fazer você rir, até doer a barriga, com as histórias de quando ele era criança… Essas eram apenas algumas das suas especiais habilidades em alegrar o seu coração. Ele acreditava em você, como ninguém mais nessa vida, minha flor! A maior prova disso é que ele concedeu que você  ganhasse asas, te deixou livre e insistiu para que voasse, empurrou-a para fora do ninho, quase da mesma maneira que te ensinou a nadar – te jogando na piscina… Porém, permaneceu ali, seguindo os seus movimentos… Sempre atento e pronto, caso você não conseguisse alcançar a borda. E você conseguiu. Hoje sei que sente falta da presença dele na beirada da piscina, olhando atentamente para cada braçada sua, cada tentativa de não submergir e até mesmo da prontidão em pular na água para te salvar, se fosse necessário. Sei que sente falta da toalha que ele carregava, acolhendo-a, ao sair da água, porém o mais importante era o abraço escondido atrás daquela toalha, o sorriso naquele rosto magro e o brilho insistente naqueles olhos, que teimavam em brilhar, quando fitavam os seus… E você sabia, exatamente, que para ele, não importava se você tinha ou não atingido o êxito, se você tinha ou não conseguido nadar, mas que, na verdade, o que valia, era os dois estarem ali.
                                                                                 (Geziane Maini)

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